Márcia Raele
A primeira vez que vi a um show do Pin Ups foi em julho de 1992. Isso mesmo, há quase 20 anos. Eu já os tinha ouvido na rádio, a 89FM que na época era uma rádio rock e sempre buscava inserir em sua programação algumas novidades do rock nacional. Nessa época não existia internet, sequer redes sociais como as de hoje compartilhando informações em milhares de segundos, mas existia uma forte (porque não) mídia social chamada fanzine e a melhor de todas, os amigos. Estava em Santos, passando minhas férias de julho (eu era uma adolescente de 17 anos e ainda podia me dar ao luxo de ter férias) com minhas amigas Daniela e Glaucia.
Lá tínhamos uma corrente de amigos inesquecíveis que gostavam dos mesmos sons, falavam das mesmas coisas e dividiam os mesmo sentimentos. Um deles, o Sérgio (Tchubo – que não vive mais neste planeta) foi quem nos avisou do show na Gruta do Rock, extinta casa na divisa entre Santos e São Vicente. Era 25 de julho, e na mesma noite tocaria também Tube Screamers, banda de hardcore que anos depois trocaria de nome para Againe. Foi uma noite muito feliz por milhares de detalhes ao caminho e durante o show, e talvez uma das mais felizes em minha vida. Algumas pessoas presentes neste dia, se a memória não estiver falha: Daniela, Gláucia, Tchubo, Dimitre, China, Jefferson, Giovani, Sansei, Luizinho (Champignon). Caminhos divertidos até lá, com direito a linha de trem e sustos “O treeemmmmm”.
Mas voltando a música, a partir desse dia, passei a perceber que existia uma vida rica e interessante no submundo do rock. Muita coisa aconteceu nesse ano de 1992, e a cena do rock underground nacional fervia na mesma proporção que o grunge de Seatle se despertava para o mundo. Não, como disse, graças à Internet, mas aos fanzines, demos, selos independentes e à amizade que reinava entre todas as bandas e público. Virei fã do Pin Ups, assisti a mais uma dezena de shows deles, critiquei críticos de música da época que não entendiam o que estava acontecendo (como diz uma amigo – o Pin Ups estava muito a frente de seu tempo), virei amiga deles e fico muito feliz por isso. Uma vez ganhei um cartão de aniversário dizendo que a felicidade estava nas amizades conquistas. Hoje, completando 37 anos, 20 anos depois de tudo isso, posso dizer que fui e sou muito feliz. Pela conquista de amigos que vivenciaram comigo todo esse período e guardam consigo toda a essência que vivíamos.
Mas eu vim aqui para mostrar a entrevista completa que fiz com a Alê e o Zé Antônio, do Pin Ups, às vésperas deles se apresentarem na Virada Cultural de São Paulo (SP). Uma parte já foi publicada no site do Rock´n´Beats (http://bit.ly/ILZ4q9) . Poder conversar com eles é sempre uma alegria. Poder vê-los tocar é sempre a certeza de entender porque são tão considerados.
Quando foi a última vez que fizeram um show?
Zé Antônio – Com essa formação, acho que foi em 2004, no Curitiba Pop festival. Depois disso fiz um show no CB, pra comemorar os 20 anos do primeiro álbum, mas a Alê não tocou. O Luiz, vocalista do primeiro álbum foi quem cantou e o baixo foi tocado pelo Jesus, do Los Pirata.
Estão ansiosos para este retorno na Virada Cultural?Alê – Sim, muito! Eu mesma nunca mais toquei depois que saí do Lava em 2006, e é muito emocionante tocar as músicas do Pin Ups novamente com a banda reunida.
Zé Antônio – Acho que mais do que ansioso eu estou feliz em reencontrar e tocar com os amigos queridos do Pin Ups. Vai ser divertido, mas não sei qual será o público, pois muita gente não vai querer levantar tão cedo.
Por que esta reunião para o evento? Será apenas esse show, ou os fãs podem esperar por um retorno maior? Existe algum projeto para futuro?
Zé Antônio – Em princípio é só um show, mas não descartamos a possibilidade de fazer mais algumas apresentações. Sabemos que essa não será uma volta da banda, mas se aparecer uma boa proposta, não há porque recusar.
Já têm um set list pronto para a Virada?
Alê – Sim! O set é gigantesco em se tratando de uma apresentação do Pin Ups. Serão 18 músicas! Fato inédito em nossa existência.
Zé Antônio – A maioria são músicas que a Alê já cantava, algumas da fase anterior, e três covers que a gente costumava tocar nos shows.
O show será com a formação de vocês, mais a Eliane e o Flávio, certo? Os primeiros integrantes (Luis Gustavo e Marco, vocalista e baterista na primeira formação da banda, respectivamente) algum dia tiveram interesse em retornar as atividades com o Pin Ups? Ou vocês já pensaram em reunir a primeira formação da banda?
Alê – Consultamos ambos antes de fazer a reunião com esta formação. A ideia era fazermos o show do Time Will Burn [primeiro trabalho do grupo]. Porém o Marquinhos está morando em Detroit e está em turnê com sua nova banda [Jesus & The Groupies]. Então não deu certo e assim resolvemos fazer a reunião da formação da segunda fase do Pin Ups.
Como avaliam a cena musical atualmente no Brasil? Vocês acreditam que o Pin Ups ajudou a construir o que existe atualmente, seja na cena indie ou não?
Zé Antônio – Na época essa ideia nem passava pela nossa cabeça. Hoje várias bandas já vieram dizer que nós fomos influência. Isso me deixa muito feliz, é claro. Ouvir isso depois de tanto tempo é surpreendente. Em relação à cena alternativa de hoje, eu acho ótima por vários motivos: primeiro porque tem muita gente boa, com talento e determinação. Além disso, a música alternativa já não é algo tão restrito e tão compartimentada como era no passado. Hoje os estilos se misturam, os músicos colaboram mais entre si e existe uma preocupação com a qualidade musical. É tudo bem menos ingênuo do que em nossa época, isso é verdade. Mas é bom ver que tem músico da cena alternativa se dando bem, construindo uma carreira e sendo percebido pelo público. Dá um alívio ver isso.
Alê - Acho que a cena está em eterna efervescência e devido ao grande número de espaços para shows e meios de comunicação muita coisa boa sempre vai surgir. Acho meio pretensioso dizer que ajudamos a formar alguma coisa, mas no fundo até que é bem verdade, né?
Poderiam comparar a época em que começaram a tocar nos anos 90 com os dias atuais? O que mais gostam daquele período e quais críticas teriam? E em relação a hoje, existe algum ponto que destacam dentro do rock nacional ou alguma crítica?
Zé Antônio – Acho que falei um pouco disso na resposta anterior... mas naquela época tudo era muito mais difícil. Quase não haviam lugares para tocar, o equipamento era sempre sofrível, os shows sempre na alta madrugada e muitas bandas tocavam de graça. Apesar de tudo isso, havia um certo idealismo no ar. A gente passava por poucas e boas, mas estava sempre feliz com os shows e os amigos que fazíamos.
Alê – Quando começamos a tocar, os shows eram destinado a um público restrito e interessado em música alternativa em geral. Sem o auxílio da internet o alcance era outro porém de alguma forma, o fato da cena ser mais intimista fazia com que o clima fosse quase que familiar – somos amigos de grande parte daquelas pessoas que compunham a cena (você inclusive !!!) até hoje.
Qual fato (bom ou ruim) mais marcante dentro da história do Pin Ups?
Zé Antônio – Nossa... essa é difícil de responder. Acho que os fatos mais marcantes foram o lançamento do primeiro álbum e as turnês ao lado do Superchunk, quando viajamos pelo país ao lado de uma banda que gostávamos tanto.
Vocês sempre exerceram outras atividades além de tocar em bandas. A música está atrelada também à vida profissional e ao dia a dia de vocês?
Alê – Sim, eu sempre trabalhei com música. Seja na Roadrunner Recs, na MTV ou na Conteúdo Musical. Hoje sou autônoma, mas continuo prestando serviços de produção artística. É um verdadeiro privilégio poder trabalhar com música neste país!
Zé Antônio – Sempre... ouço música o dia todo e sempre que possível meu trabalho tem a ver com música. Trabalhei por 17 anos na MTV falando sobre música e agora estou na curadoria da Let's Rock, uma exposição sobre que está acontecendo na Oca, do Ibirapuera. Foram quase 8 meses dedicados a isso até a abertura e está sendo uma delícia.
Algum recado em especial?
Zé Antônio – Sim.. agradecer a todas as pessoas queridas como você que sempre estiveram ao nosso lado. Espero que possamos nos encontrar no show da virada.
Alê – Esperamos que todos se animem, acordem cedo, comam um pão na chapa, tomem um café bem forte e venham assistir ao nosso show às 8h30 no domingo, no palco da Barão de Limeira. Ah! Vale virar também, é que eu mesma já estou no time dos velhinhos [risos].
Pin Ups, no extinto bar Tribo, em Campinas (SP)