sexta-feira, 4 de maio de 2012

Banda Pin Ups está de volta?

Grupo se reúne para show especial durante Virada Cultural, em São Paulo (SP)

Márcia Raele

A primeira vez que vi a um show do Pin Ups foi em julho de 1992. Isso mesmo, há quase 20 anos. Eu já os tinha ouvido na rádio, a 89FM que na época era uma rádio rock e sempre buscava inserir em sua programação algumas novidades do rock nacional. Nessa época não existia internet, sequer redes sociais como as de hoje compartilhando informações em milhares de segundos, mas existia uma forte (porque não) mídia social chamada fanzine e a melhor de todas, os amigos. Estava em Santos, passando minhas férias de julho (eu era uma adolescente de 17 anos e ainda podia me dar ao luxo de ter férias) com minhas amigas Daniela e Glaucia.

Lá tínhamos uma corrente de amigos inesquecíveis que gostavam dos mesmos sons, falavam das mesmas coisas e dividiam os mesmo sentimentos. Um deles, o Sérgio (Tchubo – que não vive mais neste planeta) foi quem nos avisou do show na Gruta do Rock, extinta casa na divisa entre Santos e São Vicente. Era 25 de julho, e na mesma noite tocaria também Tube Screamers, banda de hardcore que anos depois trocaria de nome para Againe. Foi uma noite muito feliz por milhares de detalhes ao caminho e durante o show, e talvez uma das mais felizes em minha vida. Algumas pessoas presentes neste dia, se a memória não estiver falha: Daniela, Gláucia, Tchubo, Dimitre, China, Jefferson, Giovani, Sansei, Luizinho (Champignon). Caminhos divertidos até lá, com direito a linha de trem e sustos “O treeemmmmm”.

Mas voltando a música, a partir desse dia, passei a perceber que existia uma vida rica e interessante no submundo do rock. Muita coisa aconteceu nesse ano de 1992, e a cena do rock underground nacional fervia na mesma proporção que o grunge de Seatle se despertava para o mundo. Não, como disse, graças à Internet, mas aos fanzines, demos, selos independentes e à amizade que reinava entre todas as bandas e público. Virei fã do Pin Ups, assisti a mais uma dezena de shows deles, critiquei críticos de música da época que não entendiam o que estava acontecendo (como diz uma amigo – o Pin Ups estava muito a frente de seu tempo), virei amiga deles e fico muito feliz por isso. Uma vez ganhei um cartão de aniversário dizendo que a felicidade estava nas amizades conquistas. Hoje, completando 37 anos, 20 anos depois de tudo isso, posso dizer que fui e sou muito feliz. Pela conquista de amigos que vivenciaram comigo todo esse período e guardam consigo toda a essência que vivíamos.

Mas eu vim aqui para mostrar a entrevista completa que fiz com a Alê e o Zé Antônio, do Pin Ups, às vésperas deles se apresentarem na Virada Cultural de São Paulo (SP). Uma parte já foi publicada no site do Rock´n´Beats (http://bit.ly/ILZ4q9) . Poder conversar com eles é sempre uma alegria. Poder vê-los tocar é sempre a certeza de entender porque são tão considerados.

Quando foi a última vez que fizeram um show?
Zé Antônio – Com essa formação, acho que foi em 2004, no Curitiba Pop festival. Depois disso fiz um show no CB, pra comemorar os 20 anos do primeiro álbum, mas a Alê não tocou. O Luiz, vocalista do primeiro álbum foi quem cantou e o baixo foi tocado pelo Jesus, do Los Pirata.

Estão ansiosos para este retorno na Virada Cultural?Alê – Sim, muito! Eu mesma nunca mais toquei depois que saí do Lava em 2006, e é muito emocionante tocar as músicas do Pin Ups novamente com a banda reunida.

Zé Antônio – Acho que mais do que ansioso eu estou feliz em reencontrar e tocar com os amigos queridos do Pin Ups. Vai ser divertido, mas não sei qual será o público, pois muita gente não vai querer levantar tão cedo.

Por que esta reunião para o evento? Será apenas esse show, ou os fãs podem esperar por um retorno maior? Existe algum projeto para futuro?
Zé Antônio – Em princípio é só um show, mas não descartamos a possibilidade de fazer mais algumas apresentações. Sabemos que essa não será uma volta da banda, mas se aparecer uma boa proposta, não há porque recusar.

Já têm um set list pronto para a Virada?
Alê – Sim! O set é gigantesco em se tratando de uma apresentação do Pin Ups. Serão 18 músicas! Fato inédito em nossa existência.

Zé Antônio – A maioria são músicas que a Alê já cantava, algumas da fase anterior, e três covers que a gente costumava tocar nos shows.



O show será com a formação de vocês, mais a Eliane e o Flávio, certo? Os primeiros integrantes (Luis Gustavo e Marco, vocalista e baterista na primeira formação da banda, respectivamente) algum dia tiveram interesse em retornar as atividades com o Pin Ups? Ou vocês já pensaram em reunir a primeira formação da banda?
Alê – Consultamos ambos antes de fazer a reunião com esta formação. A ideia era fazermos o show do Time Will Burn [primeiro trabalho do grupo]. Porém o Marquinhos está morando em Detroit e está em turnê com sua nova banda [Jesus & The Groupies]. Então não deu certo e assim resolvemos fazer a reunião da formação da segunda fase do Pin Ups.


Como avaliam a cena musical atualmente no Brasil? Vocês acreditam que o Pin Ups ajudou a construir o que existe atualmente, seja na cena indie ou não?
Zé Antônio – Na época essa ideia nem passava pela nossa cabeça. Hoje várias bandas já vieram dizer que nós fomos influência. Isso me deixa muito feliz, é claro. Ouvir isso depois de tanto tempo é surpreendente. Em relação à cena alternativa de hoje, eu acho ótima por vários motivos: primeiro porque tem muita gente boa, com talento e determinação. Além disso, a música alternativa já não é algo tão restrito e tão compartimentada como era no passado. Hoje os estilos se misturam, os músicos colaboram mais entre si e existe uma preocupação com a qualidade musical.  É tudo bem menos ingênuo do que em nossa época, isso é verdade. Mas é bom ver que tem músico da cena alternativa se dando bem, construindo uma carreira e sendo percebido pelo público. Dá um alívio ver isso.

Alê - Acho que a cena está em eterna efervescência e devido ao grande número de espaços para shows e meios de comunicação muita coisa boa sempre vai surgir. Acho meio pretensioso dizer que ajudamos a formar alguma coisa, mas no fundo até que é bem verdade, né?

Poderiam comparar a época em que começaram a tocar nos anos 90 com os dias atuais? O que mais gostam daquele período e quais críticas teriam? E em relação a hoje, existe algum ponto que destacam dentro do rock nacional ou alguma crítica?
Zé Antônio – Acho que falei um pouco disso na resposta anterior... mas naquela época tudo era muito mais difícil. Quase não haviam lugares para tocar, o equipamento era sempre sofrível, os shows sempre na alta madrugada e muitas bandas tocavam de graça. Apesar de tudo isso, havia um certo idealismo no ar. A gente passava por poucas e boas, mas estava sempre feliz com os shows e os amigos que fazíamos.

Alê – Quando começamos a tocar, os shows eram destinado a um público restrito e interessado em música alternativa em geral. Sem o auxílio da internet o alcance era outro porém de alguma forma, o fato da cena ser mais intimista fazia com que o clima fosse quase que familiar – somos amigos de grande parte daquelas pessoas que compunham a cena (você inclusive !!!) até hoje.

Qual fato (bom ou ruim) mais marcante dentro da história do Pin Ups?
Zé Antônio – Nossa... essa é difícil de responder. Acho que os fatos mais marcantes foram o lançamento do primeiro álbum e as turnês ao lado do Superchunk, quando viajamos pelo país ao lado de uma banda que gostávamos tanto.

Vocês sempre exerceram outras atividades além de tocar em bandas. A música está atrelada também à vida profissional e ao dia a dia de vocês?
Alê – Sim, eu sempre trabalhei com música. Seja na Roadrunner Recs, na MTV ou na Conteúdo Musical. Hoje sou autônoma, mas continuo prestando serviços de produção artística. É um verdadeiro privilégio poder trabalhar com música neste país!

Zé Antônio – Sempre... ouço música o dia todo e sempre que possível meu trabalho tem a ver com música. Trabalhei por 17 anos na MTV falando sobre música e agora estou na curadoria da Let's Rock, uma exposição sobre que está acontecendo na Oca, do Ibirapuera. Foram quase 8 meses dedicados a isso até a abertura e está sendo uma delícia.

Algum recado em especial?
Zé Antônio – Sim.. agradecer a todas as pessoas queridas como você que sempre estiveram ao nosso lado. Espero que possamos nos encontrar no show da virada.

Alê – Esperamos que todos se animem, acordem cedo, comam um pão na chapa, tomem um café bem forte e venham assistir ao nosso show às 8h30 no domingo, no palco da Barão de Limeira. Ah! Vale virar também, é que eu mesma já estou no time dos velhinhos [risos].

                                                  Pin Ups, no extinto bar Tribo, em Campinas (SP)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Entrevista com Wayne Hussey (The Mission): “Tem sido muito bom ouvir as músicas com o tom original novamente”

Foto: Cinthya Hussey
Por Márcia Raele

Piracicaba sempre foi muito quente, mas aquele dia parecia
que o sol estava ainda mais perto de nós. Um antigo engenho construído no
século XIX às margens do rio – hoje um patrimônio histórico e cultural da
cidade – foi o local escolhido por Wayne Hussey, vocalista do The Mission (UK),
para nossa entrevista, na terça-feira de Carnaval. O grupo, que está celebrando
seus 25 anos, fará show em São Paulo no dia 27/05, e talvez na região de
Campinas (Red Eventos – Jaguariúna) e Curitiba, em datas a serem confirmadas. Wayne
está morando no Brasil já há alguns anos – é casado com uma brasileira – e,
apesar de um pouco mais velho, não perdeu o estilo rocker com diversos brincos
na orelha, calça jeans, camiseta preta e seu tradicional óculos escuro.
Após 50 anos de idade, disse que fez sua primeira tatuagem: uma patinha de
cachorro e o nome Babi, uma Cocker Spaniel de sua esposa. “Ela era cega por causa
do diabetes e eu adorava jogar futebol com ela porque eu sempre ganhava”,
comenta sorrindo. “Mas ela faleceu há três anos”. Passeando por galpões em
ruínas e a ponte sobre o rio Piracicaba, conversamos sobre os próximos shows na
América Latina e também sobre algumas curiosidades que eu tinha sobre eles há
cerca de 25 anos.

Quais suas expectativas sobre os próximos shows aqui na América do
Sul?

Wayne Hussey – As turnês na América do Sul são sempre muito
loucas e cheias de eventos interessantes e acontecimentos inesperados. Mas o público
é sempre maravilhoso. A última vez que fizemos show aqui no Brasil foi em 2002,
e por isso estamos bem ansiosos.

Essa turnê é para celebrar os 25 anos da banda, certo? Qual a diferença
de tocar hoje em relação a quando vocês começaram em 1986?

Wayne Hussey – Antes eu tinha mais cabelo e menos corpo [risos]. Em 1986, não imaginávamos chegar aos 25 anos de história. As músicas da época eram bem diferentes, tínhamos recursos diferentes. Mas nunca pensamos em viver este momento, o que é uma grande emoção.

E a emoção do público nos shows do The Mission, continua igual?
Wayne Hussey – É sempre grande. Mas não que o público tenha
aumentado em todos esses anos, não temos um público novo. O que aconteceu é que
nosso público foi crescendo com o The Mission.

E uma curiosidade minha: por que The Mission? Existe algo religioso em
tudo isso, algum recado a ser dado ou uma “missão”?

Wayne Hussey – Não exatamente. Mas certamente se você me
perguntasse isso naquela época eu iria inventar algo, porque era como minha
cabeça funcionava naquele tempo. Mas, uma das coisas que aprendi com os anos,
foi que as coisas não precisam de respostas. As músicas que cantava eram sobre
situações e o que eu sentia naquele exato momento, mas não que existisse uma
razão ou algum recado a ser dado.

E o símbolo do The Mission [espécie de cruz com símbolos de infinito
entrelaçados], tem algum significado especial?

Wayne Hussey – Eu roubei dos franceses. Os ingleses não gostam muito dos franceses, então eu roubei o símbolo dos franceses [risos].Este era um símbolo que tinha em cima do chapéu da guarda civil francesa, aquela que costuma salvar as pessoas de enchentes.

Você queria salvar alguém?
Wayne Hussey – Talvez, eu mesmo.

Voltando aos shows, o que o público pode esperar? Já existe um set list
definido?

Wayne Hussey – Ainda não, mas sabemos que o público quando vai aos nossos shows querem ouvir os sucessos, como Severina, Tower Of Strength, Butterfly on Wheel.
Sempre existem as músicas novas a serem tocadas, mas pela nossa experiência,
sabemos que se não tocarmos os sucessos as pessoas fogem para o bar.

Desde quando o The Mission voltou a tocar com a formação original, e
como tem sido?

Wayne Hussey – Começamos em outubro de 2011 [iniciaram a
turnê pela Europa], para a celebração dos 25 anos da banda, e tem sido muito
bom. Ao longo dos anos, eu deixava os músicos convidados bem à vontade para
tocarem dentro dos seus estilos, e agora com a nossa formação tem sido muito
bom ouvir as músicas com o tom original novamente.

E é difícil morar no Brasil e ter o resto da banda em outro país?
Wayne Hussey – Não. Hoje, pelas facilidades da Internet é
muito tranquilo. Há pouco tempo fiz uma gravação inteira de um álbum com
Julianne Regan [ do All About Eve ] totalmente via e-mails.

Conte-me um pouco sobre esse projeto com a Julianne, chama-se
Hussey-Regan, certo?

Wayne Hussey – Julianne e eu nos conhecemos há muitos anos,
desde o tempo do disco God’s Own Medicine [ela é a voz feminina de Severina],
então acho que seria natural que um dia fizéssemos algum trabalho juntos. E foi
bem natural mesmo, sem pressões de prazo. Muito gostoso.

E podemos esperar um novo trabalho do The Mission?
Wayne Hussey – Bem... nós estamos pensando a respeito para o
próximo ano. Mas por enquanto é só isso, um pensamento. Não queremos firmar
planos, mas estamos gostando muito dessa ideia de tocarmos juntos novamente, e
se continuar assim acho que será natural gravarmos um novo álbum. Vamos ver...

[Mais sobre o The Mission abaixo e em themissionuk.com ou The Mission XXV,São Paulo,Brasil]


Deuses ou Homens?
Temos um estranho comportamento de endeusarmos alguns tipos
de artistas. Os cantores são um deles, ainda mais se forem internacionais e com
alcance de público imenso. Isso aqui no Brasil toma, às vezes, proporções
exageradas devido à nossa cultura mais amorosa e calorosa em sentimentos. Mas
esquecemos que atrás de poses, vozes, interpretações existem pessoas como outra
qualquer, talvez apenas um pouco mais famosa ou rica. Não me excluo desse
sentimento e sempre tive grande admiração – e por que não “embasbacamento”– por
muitos grupos/cantores de rock. O The Mission é um deles, o qual conheci quando
tinha 12 anos apresentado por meu irmão Du (sempre ele): “Tina, esse é o The
Mission. O vocalista e o baixista saíram do Sister´s Of Mercy e montaram o The
Mission”.
Pronto! Foi o suficiente, principalmente após ouvir
Severina, Tower of Strenght e Wastland, para fazer uma ligação maluca em minha
cabeça - irmãos da misericórdia, a
missão, God´s on Medicine (nome do primeiro disco) – de algo realmente divino
no sentido literal ou simplesmente por ser muito bom. Real ou não, intencional ou não, suas
músicas, vestes e símbolos sempre foram uma referência para mim. E hoje, 25
anos depois, tive a grata oportunidade de rever alguns detalhes sobre tudo
isso, ou pelo menos matar algumas curiosidades, como “qual o significado do
símbolo do The Mission?”, “Por que The Mission?”. Não que a resposta dada tenha
mudado algo em meus sentimentos por suas músicas, mas ouvir da boca da própria
pessoa que a criou foi algo bastante esclarecedor. Afinal, não estamos mais em
1986, e não tenho mais os sonhos da época. Mas pude encontrar com alguém que
fazia parte deles, e ver que ele é uma pessoa real. Talvez ele possa representar um elo entre nós e Deus (afinal ele é um cantor, e não é essa a função original da música?), quem sabe?
Aqueles que irão às apresentações que o Mission fará
no Brasil – já confirmada a de São Paulo, no dia 27/05, no Cine Joia – com certeza
dividirão esse mesmo sentimento. Um dos ícones da geração gótica nos anos 80, a
banda sempre arrastou multidões por onde passava pelo mundo. Hoje, sem tantas vestes
pretas e com cabelos mais curtos e grisalhos, Wayne Hussey, Graig Adams e Simon Hinkler deverão fazer um show de celebração. Afinal, são 25 anos de banda, fato que, como o próprio vocalista comentou, não esperava acontecer. “É uma grande emoção. Não imaginávamos chegar até aqui. Está sendo muito bom ouvir as músicas com o tom original”.
Após uma conversa tranquila com ele e sua simpática esposa, não
pude deixar meu lado fã à parte e pedi um autógrafo para meu vinil God´s Own
Medicine (Remédio dos Deuses, que remete à morfina – santa morfina que tirou as
dores da minha cesárea : ) ). Não sei se foi apenas para fazer uma alusão ao
contexto do disco, (cheio de dizeres sobre fé) ou não, mas Wayne escreve: “Márcia,
mantenha a fé”.

A fé está mantida e a tempestade que caiu logo após nos
despedirmos comprovou tudo isso para mim.