terça-feira, 18 de agosto de 2009

Wry em Campinas - Bar do Zé | Palmas para eles!

Desculpem-me os demais grupos de rock do Brasil, alguns que amo tanto, mas não há nada hoje sendo produzido por uma banda brasileira que possa ser comparado à qualidade musical e de produção artística do Wry.

Voltando às origens, de seus primeiros anos de estrada, o Wry está a um passo, ou melhor dizendo, com os dois pés fincados no shoegaze o que lhe faz merecer palmas e mais palmas. Palmas por encontrar a linha musical da banda e a origem de sua existência - quando eu os vi pela primeira vez, eles tocavam com suas camisas de listrinhas -; palmas por atingirem uma qualidade musical invejável.

O Wry não é apenas uma banda do Brasil que foi tocar em Londres. Eles foram um dos primeiros que tiveram coragem de ir com a cara e coragem para lá, permanecendo por sete anos. E se não atingiram o tal do sucesso mainstream almejado por alguns, conquistaram experiência suficiente para lapidar seu som com produtores e influências do melhor do rock britânico.

Por isso, até havia pensando em começar este texto com o título "Quem não tem Ride, caça com Wry", fazendo uma certa brincadeira com o ditado popular, pois a sensação que tive no show da banda sorocabana no último sábado em Campinas (15/08) foi essa, de que estava num show do Ride. Mas isso soou de certa forma depreciativo para o que realmente queria dizer. Como disse anteriormente, eles não são mais uma banda que foi tocar em Londres... Hoje eles são uma banda do mundo.

Quem tiver o privilégio de assistir ao show deles vai ouvir algo ensurressedor com Mário gigante no palco, cantando e tocando como um rockstar, conversando com a plateia feliz da vida por estar ali e ao mesmo tempo entrando em transe quando os timbres das guitarras atingem um efeito sonoro que pode ser confundido com uma viagem intergalática.

Com o mesmo efeito Luciano dedilha com delicadeza as cordas de sua guitarra, que expõem eterna doçura em detalhes sonoros que podem fazer uma pessoa sentir a mais profunda das dores da alma ou do coração... [ Aqui peço uma desculpa especial a Luciano, por nunca ter prestado muita atenção em sua forma de tocar, e, só neste dia, me deparei com um guitarrista preciso em cada nota ] ...E ele demonstra essa dor quando fecha seus olhos e sente cada nota que sai por meio de seus movimentos, sejam eles com uma palheta, sejam com as cerdas de um arco de violino (!!!).

Chokito, o baixista da banda, não estava presente - ficou resolvendo algumas pendências em Londres - mas foi substituído à altura por W27, que, não diferente dos demais, estava em plena catarse.

E o show não teria sido completo se Renato Bizar não estivesse de volta à banda. O mais insandecido dos bateristas estava lá com toda sua força fazendo o complemento, de certa forma antagônico e irônico, às músicas feitas para balançar a cabeça olhando para o chão, viajar pelo espaço e amar com muita paixão. A great heart experiencie...

Vejam aqui um momento do show gravado Por Rafael Martins.

Entrevista com Wry - publicada em abril de 2009.

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O que é tentar tocar em Londres por Kid Vinil

Em 2001 ou 2002 (já não me lembro ao certo) fiz uma entrevista com Kid Vinil pro DoneZine (na época produzido em papel) e entre as perguntas estavam as seguintes:

O Wry está na Inglaterra e tem outras bandas do Brasil também por lá. O que vocês acham de banda brasileira tentar um mercado lá fora?
Kid Vinil - Não é fácil. Eu sei a dificuldade que eles estão enfrentando. Se eles caem nas graças de algum crítico, de algum jornal tipo New Music Express tudo bem, aí a vida muda. Até cair nas graças e no “hype”, isso é muito difícil. Acho que a gente poderia dar o exemplo do Maria Angélica... o Fernando Naporano foi pra lá tentar e não conseguiu cair nas graças de ninguém.

Mas aqui no Brasil eles até tinham alguma “graça”, pro público brasileiro eles eram bem conceituados na época, não?
Kid Vinil – É exatamente. É esse que é o problema, se eles ficarem todo um tempo e não conseguirem conquistar ninguém, não adianta tocar em pub ou qualquer lugar. Esse circuito não chega a lugar nenhum. Tem que sair no New Music Express, tem que conhecer os jornais... que nem o Drugstore... a Isabel Monteiro caiu nas graças dos caras. Eu lembro que ela lançou o primeiro compacto e eu vi no Melody Maker “Compacto da Semana”. Nossa! Uma brasileira! Eu fiquei entusiasmadíssimo. “Nossa! Meu deus do céu! Uma brasileira saindo como compacto da semana!”. Eu fiquei desesperado querendo saber o que é que era, e o Fernando Naporano, que estava morando lá, me mandou o disco. Aí todo disco que ela lançava era disco da semana, disco do mês... É incrível que a crítica na época abraçou a banda e isso a ajudou crescer. Mas se isso não tivesse acontecido, nada teria acontecido, como muitas bandas foram para lá e nada aconteceu. O problema é cair nas graças. É uma puta máfia, como é aqui também. Mas a tentativa é válida. Vale a experiência. Tomara que eles consigam cair na graça desses jornalistas, porque é a única maneira de você conseguir “sobreviver” lá.