Essa semana minha amiga de trabalho Karina Pilotto comentou sobre Control e escutamos a versão do The Killers para Shadowplay do Joy Division, e tudo isso me fez lembrar de um texto que escrevi sobre outro filme, tão legal quanto, o 24 Hour Party People, na época de seu lançamento para a terceira edição de meu fanzine Done (ainda em papel em 2002). E mais ainda do texto de meu fiel escudeiro de zine, Rafael Martins, o qual reproduzo abaixo em homenagem a esses momentos nobres de nossa vida e a essa chuva linda que cai lá fora...
Vida perfeita
O recomendado é que durmamos de 8 a 10 horas por dia, mas o que vejo por aí é que a maioria das pessoas vão dormir antes e acordam muito, muito antes do que gostariam. Acordar, na verdade, é modo de dizer, pois passamos a maior parte do dia sonhando. Não necessariamente infelizes com a própria vida, mas de certo modo insatisfeitos, até ligeiramente frustrados.
Pois, onde está aquela vida perfeita por anos idealizada, com a pessoas perfeitas, músicas, filmes, livros perfeitos, empregos perfeitos, roupas, bares, bebidas e drogas perfeitas?
Talvez sonhar demais tire um pouco do brilho da realidade. Mas eu me lembro de pequeno, nos momentos mais difíceis, minha mãe falando de perseverança, determinação, de fé e de quando se quer algo com muita, mas muita força, mesmo que demore, sempre conseguimos. Lembro até de ter ficado com 40º de febre pra ganhar um tanque do “Comandos em Ação”. Será que se olharmos com os olhos bem arregalados não veremos que tudo é fácil quando não construímos nossas próprias barreiras, quando não nos auto-sabotamos?
É... viver de sonho é que traz a tal frustração. Mas sonhar é o primeiro passo. Na edição passada do Done, isso foi bem retratado pelas matérias com o Wry e o Pullovers. E nesta com mais algumas outras.
Mas, enfim, estava eu num sábado de manhã meio nublado como eu gosto, lendo umas letras do Ian Curtis, esperando pelo show do Echo and Bunnymen, tentando aprender a tocar baixo, sempre com Simon Gallup e Petter Hook na cabeça, quando me lembro de um velho amigo (que felizmente ou infelizmente virou pastor Batista) me contando que a mulher perfeita para ele tem que acordar no domingo e, com a mesma intensidade que ele, viajar em New Order.
Mas já é sábado à tarde e está sol e calor, que eu abomino, e eu na casa da Marcinha bolando esta edição. E após me mostrar um trailer de um filme inglês e ler um email de Mário Bross falando de um suposto revival anos 80 e que pela terceira vez escutava Suite Number Five, eu lhe conto a história do tal velho amigo e, com toda a intensidade que ele procurava, ela exclama “que cara lindo!!!!!!” e me fala que para sermos realmente felizes temos que tentar realizar tudo o que sonhamos mesmo que pareça impossível. E eu me lembro do velhinho pintor de ossos de vidro de Amélie Poulain dizendo que “às vezes é preciso mergulhar de cabeça”. Sim, parece banal e todo mundo sabe disso, mas freqüentemente eu esqueço e então eu apenas balanço a cabeça concordando.
Voltamos, então, os dois pra tela de seu computador e pela milésima vez entramos no tal trailer citado acima... 24 Hour Party People... *
Rafael Martins (donezine #3 - 2002)
Por trás da cena
Se você tem sangue quente correndo em suas veias certamente o filme 24 Hour Party People irá fazer você tremer. Ainda não tive a chance de velo inteiro. Mas só o trailer já me fez ter convulsões. Não! Não iguais as de Ian. Aliás, hoje (quando escrevo este texto) é 18 de maio. Aqui está tudo bem e aí?
Voltando a Terra... Trilha sonora perfeita fez os tempos nos 80. Sexo e drogas também. Club noturno. Haçienda é o nome, e por trás dele New Order e Tony Wilson – o homem por trás da cena. No meio deles, Happy Mondays e todo o início da geração ácida. Manchester é a cidade, como eles dizem “a mais vibrante do mundo”. Inglaterra é o país. Onde mais?
É a febre dos anos 80 de volta. Perda de tempo relembrar o passado? Que se dane! Se ele foi bom, que venha novamente e venha grande!!!!! “Here To Stay”.
“Abrimos um clube noturno porque estávamos muito influenciados pelas viagens aos EUA. Queríamos criar um ambiente em Manchester e achamos que um clube noturno era o melhor modo. Queríamos que fosse um bom clube noturno, por isso nos inspiramos em lugares tipo o “The Paradise Garage” e o “Fun House”, Bernard Summer.
“Basicamente abrimos o Haçienda porque não existia lugar para se ir à noite... e também de dia. Era um lugar para se passar o dia”, Peter Hook.
24 Hour Party People - Direção: Michael Winterbottom
Márcia Raele (donezine #3 - 2002)
* Here To Stay -
http://youtu.be/PjwXXCJs7PU