terça-feira, 18 de maio de 2010

Presente, passado e futuro do The Fall

O texto abaixo foi escrito por mim para o site Rock´N´Beats, e o reproduzo aqui também.
-----------------------------

Olhando uma imagem atual de Mark E. Smith, líder do The Fall em todos os sentidos, vejo em suas rugas o que podem o tempo e as drogas fazer com a aparência de uma pessoa. Mas não está estampada ali a genialidade que essa teve em sua vida de rock temperado a muitas, muitas drogas. Não estou aqui fazendo nenhuma apologia a elas (longe disso), mas não dá para falar de The Fall – uma das mais importantes bandas da história do rock da Inglaterra, mais precisamente Manchester -, sem associar sua crueza pós-punk e suas letras repletas de ironias e alucinações às centenas de anfetaminas, ácidos, entre outras, experimentadas.

É uma imagem de uma pessoa acabada, mas com um ar de deboche típico do Fall. É como se ele dissesse “Haha, seus otários! Eu continuo vivo, apesar de toda a merda que já fiz na vida. E melhor… fazendo rock como sempre fiz: cru, simples e perfeito”. São quase trinta álbuns em sua carreira inteira (quase um por ano de existência), que incluem centenas de regravações, reedições especiais, etc, etc, etc. Dizem que quem quiser acompanhar a discografia completa do Fall precisa ser rico e não ter o que fazer, pois é algo realmente gigante. E para aumentar esse número e estilo, o Fall chega em 2010 visceral e altamente energético com o álbum Your Future Our Clutter, lançado dia 26 de abril na Inglaterra, pela gravadora Domino (a mesma de The Kills e Arctic Monkeys).

Em tradução literal, “seu futuro, nossa confusão”, o título traz um Fall como se não tivesse saído dos anos 70 com gravações de fita cassete (bálsamo!), guitarras e riffs em repetição, baixões pesados, órgãos compondo a cena e o vocal “falado” de Mark E. Smith simples e eficiente. Assim são as músicas Showcase e Slippy Floor. Mas, pra confundir um pouco a referência, ao mesmo tempo traz elementos do rockabilly ou mesmo surf music (!!!), a origem do rock, vai!, em Cowboy George e Hot Cake.

Wheather Report 2 e Bury parts 1 & 3 são imperdíveis para quem quiser ter uma noção de como era o Fall nos anos 70. Bury é a segunda música do álbum, mas na verdade é uma música em três partes. Mas, mais verdade ainda: é a mesma música tocada três vezes, como uma espécie de “evolução”. A primeira é a música tirada diretamente de um cassete. A segunda parte, mais bem gravada em sua parte instrumental puramente (sem os vocais) e a terceira, a finalização, com ela completa e gravada com todos os seus devidos canais.

“Eu comecei essa música quando estava na cadeira de rodas e tinha acabado de quebrar minhas pernas…Então, ela é como ‘eu na cadeira de rodas’, eu ‘quase em pé’ e eu ‘de pé’ novamente”, comenta Smith, no site da gravadora.

Como visto, Mark E. Smith não é o tipo de cara que se abate facilmente. Em pé ou sentado, a genial simplicidade de suas músicas sempre vai existir e qualquer sacada ao redor pode virar letra. Como tem sido desde o tempo em que ele trabalhava nas docas de Manchester. Your Future Our Clutter dá a pista desse presente, e também do passado e futuro do Fall.

Nenhum comentário: